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Evolução e revolução

Atualmente é fácil encontrar várias opiniões sobre o que é mergulho técnico, essas opiniões, em quantidade só são superadas pelo número de certificações disponíveis no “mercado” do mergulho.
Quem é da época do Aquacorps, de Michael Menduno, deve se lembrar de ter lido que mergulho técnico é “a disciplina que utiliza métodos e equipamentos especiais para aumentar a segurança e o desempenho do mergulhador, permitindo ao praticante acesso a ambientes e execução de tarefas que estão além do escopo dos limites do mergulho recreacional”.
Os anos se passaram, Menduno e o Aquacorps viraram lembranças de velhos mergulhadores, as outrora recém nascidas agências certificadoras de mergulho técnico tornaram-se aceitas pela comunidade internacional do mergulho, trazendo com ela uma imensidão de nomes e certificações.
Atendendo a demanda de consumo, novos equipamentos foram desenvolvidos e oferecidos ao público, o mergulho técnico perdia a aura romântica dos equipamentos fabricados em casa para tornar-se um comércio, um muito lucrativo comércio.
Esses novos equipamento, em um espaço de tempo muito curto se multiplicaram, indo desde parafusos especiais, a faixas de elástico para serem utilizadas nas pernas da roupa seca, transformando o que anteriormente era uma simples configuração de equipamento em algo mais complicado e cheio de opções que um astronauta em missão espacial.
A medida que o mergulho crescia, em complexidade e principalmente em profundidade trocas desnecessárias de gás se tornaram cada vez mais frequentes e nunca se mergulhou tão solo como nesses tempos.
Passamos a carregar misturas de viagem, hot mixes, gas de fundo, oxigênio puro, EANs de várias concentrações, as configurações tornaram-se mais complexas, propostas absolutistas surgiram como dogmas do mergulho, o task load aumentou sensivelmente tornando-se um dos principais focos de atenção durante os mergulhos, a comunidade do mergulho técnico cresceu e com ela o número de acidentes.

A NAUI Tec surgiu da necessidade de padronização e também de certificação, criando propostas e soluções principalmente orientadas a formas de evitar a repetição de erros do passado.

A pergunta que não calava na comunidade do mergulho técnico era “O que está causando os acidentes ?”

Acho que a ignorância muitas vezes é derivada da falta de entendimento e de conhecimento dos erros do passado.
Qualquer um que pesquise arquivos de acidentes, verá que mais da metade das fatalidades no mergulho comercial no mar do norte nos idos de 70, foi causada por uso de gás errado, no mergulho técnico não foi diferente, muitos mergulhadores técnicos morreram após trocas indevidas de gás e por utilização inadequada de ar, violando os limites aceitáveis de narcose.
A NAUI assumiu uma postura rígida em relação ao problema, acreditando que não há limites aceitáveis para uso de ar, onde houver narcose em considerável potencial, o mergulhador deverá estar respirando mistura baseada em hélio, mantendo os limites de equivalência narcótica dentro de padrões aceitáveis.
Examinando a história do mergulho encontramos muitas páginas onde figuram indivíduos que excederam os limites, limites fisiológicos, físicos ou psicológicos, alguns, ficaram famosos, outros, infelizmente não estão mais entre nós.

Em 1939 a Marinha americana, na tentativa desesperada de resgate do submarino Squalus emprega misturas baseadas em hélio pela primeira vez, o comandante “Suede” Momsen , do NEDU (Naval Experimental Diving Unit) modifica capacetes mark-V para uso com heliox e o Squalus flutua depois de mais de 100 dias de luta.

Era 1945 e Zetterstrom foi o primeiro a utilizar mistura baseada em hélio num mergulho a 153 metros, além da inovação, ele levava travel mixes e misturas EAN para serem respirados antes da troca para um mix de 4% de oxigênio e 24% e hélio, Zetterstrom morreu nesse mergulho devido a um erro do seu pessoal de apoio de superfície.

Anos passaram e em 1959, Hans Keller fez um mergulho heliox a 223 metros com apenas 45 minutos de descompressão.

Em 1962 junto com Small, Keller fez um novo mergulho, dessa vez a 305 metros, numa troca de gás, os dois mergulhadores perderam a consciência, um mergulhador de apoio morreu durante o socorro aos dois mergulhadores inconscientes.

Em 1982, tres mergulhadores do projeto Atantis-III estabeleceram um novo recorde mundial para mergulho em câmara, descendo a 686 metros, nesse mergulho, Dr. Bennett descobre que a adição de 10% de Nitrogênio a mistura evitaria os “tremores das profundezas”, a HPNS (High Pressure Nervous Sindrom).

Em 1985 Dick Rutkowski, instrutor NAUI e ex-diretor da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Agency) apresenta ao mergulho recreacional uma nova mistura gasosa, conhecida a partir de então como “Nitrox”, na realidade não era uma nova mistura, pois vinha sendo usada desde 1900, após alguma relutancia passa a ser aceita pela comunidade do mergulho e sua utilização é amplamente difundida.

No final da década de 80, um grupo muito experiente e dedicado de mergulhadores, buscando soluções para o problema da narcose, começa a adicionar hélio a suas misturas gasosas, era o começo da utilização de técnicas empregadas no mergulho comercial e no mergulho militar.

Surgiu a denominação “mergulhador técnico” simultaneamente ao surgimento de quase uma dezena de agências certificadoras.

Em 1990 certificações trimix passam a estar disponíveis além da utilização comercial e militar, a NAUI é a primeira das grandes agencias a desenvolver e aceitar treinamento de Nitrox e em 1996, a NAUI é a primeira grande agencia e endossar o treinamento de mergulho técnico, nascia a NAUI Tec.

Merece ser lembrado que os primeiros grandes lideres e desenvolvedores do mergulho, além de “batedores de recordes” como Jim Bowden, Hal Watts, Billy Deans, Terrence Tysal, Ann Kristovich, Tom Mount e Dick Rutkowski foram instrutores NAUI.

Voltando ao mar do norte, a segunda maior causa de fatalidades no mergulho comercial era a ausência de apoio de superfície qualificado, novamente, no mergulho técnico não foi diferente.

Preocupada em estar a frente, continuamente desenvolvendo novas soluções e propostas, a então jovem, NAUI Tec cria o “quadro de conselheiros”, mergulhadores militares, comerciais, engenheiros, fisiologistas, médicos hiperbáricos a até cientistas de foguetes centram suas atenções na criação de standards que minimizassem os riscos do mergulho técnico, no desenvolvimento de material didático e no suporte a todas as necessidades, que dia a dia surgiam no mergulho técnico, a revolução no mergulho técnico começou ...

É consenso que as soluções devem ser simples e objetivas :


1 – Não deve haver mergulho profundo a ar.
2 – Deve haver treinamento e qualificação das equipes de suporte e apoio a mergulho técnico.
3– Configurações devem ser padronizadas, dentro de limites lógicos, não há lugar para preferencias pessoais num mergulho em equipe.
4 - A palavra “Eu” não existe no mundo “equipe”.
5 – Deve haver material de treinamento com substancia.
6 – Toda técnica de descompressão deve causar a mínima agressão fisiológica.

A NAUI foi a primeira agência a reduzir as profundidades limite de treinamento utilizando ar, enquanto treinamentos de “deep air” eram conduzidos por outras agências a 7.2 BAR a NAUI reduzia esse limite para 6.5 BAR em 1997 e posteriormente 5.5 BAR em 1998 em todos os locais onde haja disponibilidade de hélio.

Com a popularização de misturas enriquecidas de oxigênio, ficou claro a comunidade do mergulho que em muitas aplicações, o ar comprimido não era a melhor opção para mergulhos além de 25, mas dois problemas surgiam onde antes só havia um, o controle da toxidade do oxigênio e a preocupação com a narcose, em profundidades superiores a 4 BAR, a NAUI Tec novamente na vanguarda, passa a recomendar misturas helitrox, onde o hélio dilui tanto o oxigênio quanto o nitrogênio, misturas helitrox 26/17, 26% de oxigênio, 17% de hélio e 57% de nitrogênio passam a ser a melhor opção de gás na entre os 30 e os 46 metros de profundidade, permitindo uma substancial redução dos efeitos tóxicos do oxigênio e controlando a narcose por nitrogênio simultaneamente.

A utilização desse tipo de misturas, aliada a algoritmos de descompressão baseados em modelagem de fase passa a oferecer ao mergulhador tempos não descompressivos muito maiores, e quando necessário, tempos totais de descompressão muito menores do que os anteriormente praticados com ar.

Novamente a NAUI Tec é a única agência a ter publicadas tabelas para utilização de misturas Helitrox baseadas em modelagem de fase para utilização na faixa de 28 a 46 metros, assim como tabelas descompressivas para uso com misturas Trimix até 100 m de profundidade, são as únicas tabelas que permitem ao mergulhador descomprimir no gás de fundo em caso de perda do suprimento de gás de deco.

Para atender a necessidade de pessoal de apoio dentro do escopo do mergulho técnico, a NAUI desenvolve o curso de Technical Support Leader, Esse treinamento destina-se primariamente a Divemasters NAUI e Instrutores Assistente NAUI, que também sejam mergulhadores técnicos e que pretendam atuar como equipe de suporte a times ou grupos de mergulho técnico.

Technical Support Leaders estão aptos a prestar assistência a times de mergulho técnico nas mais severas condições de mergulho, o TSL é treinado e capacitado e remover ou trocar stages debaixo dágua, monitorar subidas, substituir equipamentos com problemas, remover e trocar gas de cilindros bail out e principalmente dar assistência a equipe em caso de emergência.

A NAUI acredita que o treinamento de TSL aumenta a segurança de times de mergulho brutalmente e recomenda a sua utilização em qualquer operação de mergulho técnico.

Imagine a seguinte situação, você está a 70 metros de profundidade explorando o interior de um naufrágio, o cilindro direito de sua dupla tem o o-ring rompido por extrusão, você está em CGF (Catastrophic Gas Failure), rapidamente você isola o manifold, troca de regulador, mantendo metade do suprimento disponível e inicia a subida em direção ao time de suporte, nesse caminho o seu restante de gás reduz dramaticamente e seu regulador começa a ficar pesado, você sabe que terá que compartilhar gás na mangueira longa como um dos membros do time de suporte.

Nesse momento há tres mergulhadores de apoio esperando, o problema começa quando você percebe que cada um dos tres tem configurações de equipamento totalmente diferentes, baseados em preferencias pessoais, você começa a pensar qual deles terá a mangueira longa montada de qual lado, se é que eles tem mangueira longa ....


Ainda, dos vários reguladores, em posições diferentes, quais serão reguladores de gás de deco ?

O que você deve fazer já que seu gás baixa rapidamente ???

Com postulava Hicks, na sua lei, o tempo de reação aumenta logaritmicamente com o número de estímulos de resposta possíveis, isso significa que, quanto maior for o leque de opções, mais tempo você levará para tomar uma decisão, mas numa emergência, frações de segundo contam e indecisão pode ser significado de morte.

Em ambiente técnico não há espaço para várias opções, decisões deve ser digitais e imediatas, a padronização de um time tem como consequencia direta o menor numero possível de opções e elas devem cobrir todas as contingencias possíveis sem retardar o tempo de decisão.

Configuração e montagem de equipamento talvez seja o item mais controverso dentro da comunidade do mergulho técnico, uma boa configuração, deve suportar e permitir a execução de todas as habilidades praticadas durante o treinamento, permitindo, quando necessário, a adição de itens sem que seja modificada a configuração base do equipamento, nesse caso, mais não quer dizer melhor, tudo que não seja essencial ao mergulho, deve ser abandonado.

Mergulhar sempre com a mesma configuração permite a padronização de respostas pelo time todo, reduz significativamente o task load individual e grupal e permite a padronização de respostas, em resumo, ela não ajuda apenas a resolver problemas, mais importante que isso, ajuda a preveni-los.

A NAUI Tec recomenda uma única configuração base, desde a utilização apenas com uma dupla até o uso com múltiplas stages e scooters.

Quando inicialmente a NAUI Tec voltou seu olhos ao material de treinamento, imediatamente, percebeu-se a abundância de níveis de certificação e de material redundante de treinamento, que poderiam ser resumidos e sintetizados em um número menor de cursos e manuais.

A maior parte do material disponível então, deixava a desejar, tanto em substancia quanto em tecnologia, a primeira ação disparada pela NAUI Tec foi receber toda informação possível do NEDU (Naval Experimental Diving Unit) berço do treinamento de mergulho das forças de elite americanas, além deles, laboratórios White Sands e Los Alamos, onde nasceu a bomba atômica, engrossavam o suporte tecnológico a NAUI Tec.

Armada com tecnologia de ponta, a NAUI Tec começa a produzir um material de treinamento e guias de instrutor para o novo padrão de treinamento, Technical nitrox, Decompression techniques e Extended Range são incluídos num manual que cobre todos os aspectos dessa arena de mergulho.

Mixed Gas Blender e Oxygen service Technician é outro curso, inclui num único treinamento todos os aspectos ligados a misturas de gás, de nitrox a trimix, também inclui limpeza, teste e documentação de teste de equipamentos compatíveis com oxigênio.

O curso de Trimix, incorpora tabelas baseadas em mecânica de fase, o novo algoritmo, RGBM, desenvolvido por Bruce Wienke, diretor da NAUI, torna-se disponível a todos Trimix divers NAUI, além disso planilhas para planejamento de mergulhos em equipe e para gerenciamento de gás estão incluídas no manual, ainda a atual apresentação em power point da NAVSEA é a desenvolvida pela NAUI e a mesma que aparece nos nossos manuais.

Em anos recentes, algumas das forças especiais americanas usaram um revolucionário modelo de descompressão, chamado de modelagem de fase, Todos nós sabemos que modelos como o de Haldane atualmente funcionam como tabelas de tratamento, trazendo o mergulhador o mais próximo possível de superfície dentro das restrições impostas pelo valor “M”. Esses modelos permitem a criação de bolhas de raio muito maior, criando tempos de paradas rasas muito maiores, mas necessários a eliminação da fase gasosa.

Modelagem de fase baseia-se no conceito de raio crítico e crescimento de bolha, assim como volume cumulativo dentro de limitações de gradiente, esse modelo, provou reduzir significativamente a agressão fisiológica durante a descompressão, assim como permitir um tempo de descompressão total muito menor, além de reduzir a exposição ao oxigênio permitindo ao mergulhador começar a descompressão em paradas muito mais fundas, reduzindo o tempo de paradas rasas e trabalhando principalmente a fase dissolvida do gás.

A NAUI novamente é a única agência a possuir tabelas de descompressão baseadas em modelagem de fase, permitindo a seus mergulhadores descompressões mais curtas, e principalmente, mais seguras.

Acreditamos que o verdadeiro mergulho técnico é um planejamento, preparado por estrutura organizada, utilizando equipamentos corretos, da forma corretas, por equipes treinadas, executadas da forma planejada e com competência, com respostas a emergência efetivas, positivas e imediatas, sempre mergulhando como uma equipe, contando com mergulhadores de apoio treinados, com um mergulhador lider responsável pela execução do mergulho e pela manutenção de registros desses mergulhos.

O conceito de equipe é baseado na somatória da auto suficiência e competência individuais, não sendo permitida a colocação individual antes do time, exceto na manutenção da regra de ouro do mergulho :


Qualquer mergulhador pode, a qualquer momento e por qualquer razão abortar um mergulho !

A NAUI Tec continuará trabalhando na revolução do mergulho técnico, não haverá compromisso, além da qualidade no processo de certificação e treinamento, não haverá material ou nível de certificação desnecessário e nós estaremos sempre prontos a atender qualquer agência, mergulhador ou instrutor independente de sua filiação ou formação.

Nosso compromisso é com a manutenção da liderança, com a busca e a disponibilização da tecnologia de ponta, estando prontos a falar e a ouvir, a ensinar e aprender, e principalmente fazer do mergulho técnico uma atividade segura em função do conhecimento e do treinamento.

Marcelo "Moorea" Polato 2006


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