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Nós exploramos

Cada vez mais distantes, mais profundos....

O que nos move e atrai a essas profundezas ?

O que nos leva ao perigo, a exposição, ao risco ?

São dúvidas que quase sempre levam a respostas diretas, muito objetivas.

Perguntaram uma vez a George Mallory porque ele tinha escalado o Everest, ele simplesmente respondeu :


_ Porque ele estava lá.

Numa visão absolutamente simplista ele resume a essência motora de alguns de nós, resume a necessidade de transpor obstáculos que desde o fogo move alguns homens em direção a descoberta, nós exploramos...

No mergulho não acontece diferente, a barreira da profundidade já não existe mais, o limite de 40 e poucos metros, que era como uma muralha intransponível, só eventual e raramente ultrapassada em poucos metros, com muito risco e um misto de coragem e imprudência, hoje figura como lembrança em antigos manuais e como recomendação em manuais de mergulho recreacional.

Nasce o Mergulho Técnico e alguns de nós, a custa de muita leitura, treinamento, testes e experimentação, junto a formulas, contas, pressões e opções nos lançamos a novas profundidades antes inatingíveis, hoje confortáveis e relativamente seguras.

Navios que repousaram intactos por tantos anos, hoje são visitados, novas expedições são realizadas, novas configurações e perfis são validados.

Os limites da “lei Martini” hoje aplicam-se somente a comemorações e festas, as complicações causadas pelo nitrogênio passam a ser administradas e dosadas, o hélio surge em cena expandindo os horizontes para além do alcance da visão, mas como todo benefício tem contra partidas, passamos a nos preocupar com o oxigênio, com toxidades e relógios de CNS, considerações sobre uso de gás e planejamento de descompressão transformam um ato que era considerado simples e único numa sucessão de opções e pluralidades onde o planejamento é o primeiro fundamento de segurança, planejamos nossos mergulhos e mergulhamos apenas nosso planejamentos.

O mergulho de exploração de naufrágios, que foi uma exclusividade dos mergulhadores que nós conhecemos apenas por história, em um passado que misturava equipamentos precários, acidentes causados por erros hoje totalmente claros mas que na época eram um mistério e uma aura de romance, de pirataria e de grandes aventuras ressurge como Fenix das cinzas, os navios antes inatingíveis são hoje nossos, a pirataria transforma-se em necessidade de preservação, em resgate histórico e arqueológico, os equipamentos são redundantes, os erros do passado são lições, mas a essência, a única essência, continua a mesma, nós exploramos.

Surgem, junto a leva de "novos mergulhadores" os senhores todo-poderosos e todo-sapientes, donos de uma standartização que se não fosse ridiculamente inútil seria trágica.
Esses dinossauros, isolam-se em nichos específicos, se rodeiam de jovens inexperientes e vendem suas limitações e devaneios, como estado de arte, a perfeição expressa na maneira de mergulhar.

Mal sabem eles, que a própria padronização proposta é na essência contraria a continuidade evolutiva e que, como os grandes lagartos de outrora, uma alteração na temperatura, ou qualquer outra mudança os fará desaparecer, tão rápido quanto surgiram.
Pressupõem ainda, que os seguidores que os rodeiam também estejam sentenciados a um processo evolutivo com limites pré-determinados, pois o criador e todo poderoso instrutor figura como um ponto inatingível e supremo e nós, como meros espectadores, normalmente rotulados com apelidos importados, pelos deuses dos deuses, apenas assistimos, em silêncio enquanto expandimos os limites e procuramos novos navios, nós exploramos.

A questão filosófica é a que permanece : Porque ?

E a cada nova descoberta, a cada nova mistura gasosa experimentada com sucesso, a cada novo mergulho realizado, a cada técnica de segurança melhorada, nós temos mais certeza que não se trata apenas de mergulho, mas do surgimento de um estilo de vida e compreendendo o que levava alguns navegantes a recusar os limites além do abismo eterno a Oeste do Atlântico, nós exploramos. Aparte da imposição de modelos arbitrários de mergulho, que condenaram e condenarão seus propositores a um isolacionismo sem porta de saída, nós ouvimos, procurando novos equipamentos, nós lemos, buscando novos procedimentos, nós assistimos tentando melhorar a segurança, e principalmente, testamos e validamos, para poder mergulhar mais fundo, mais longe e por mais tempo, nós exploramos.

Assumimos uma posição iconoclástica, acreditamos não conhecer ainda todas as perguntas, que será então daqueles que tem todas as respostas ?


Seguindo um impulso primitivo, taxado por alguns de egoísmo, de risco desnecessário por outros, que nós impele a tentar alcançar o inalcançavel, a atingir o inatingível, a tentar da nossa humilde maneira, expandir os limites, mostrar novas opções, criar novos padrões e disponibiliza-los e mostra-los a quem quer que se interesse por eles, nós exploramos.

Cousteau correu riscos com o aqualung e hoje, a segurança no mergulho recreacional é conseqüência de experimentação e validação, exaustivas e contínuas ao longo dessas últimas décadas, o que fazemos hoje, é a simples continuidade do processo, os limites de ontem, passam a rotina de mergulho hoje, em profundidades onde os rebreathers de oxigênio puro no passado eram o mortalha de mergulhadores militares "experientes e experimentados" hoje alunos de curso básico fazem seu primeiro mergulho de treinamento. Questionar os novos limites e a evolução natural do mergulho, rotulada "mergulho técnico" é tão infame como questionar a evolução humana.

Alguém se apoderou do fogo, daquele momento em diante o homem conquistou, iluminou, conheceu, explorou.
Essa é nossa proposta, repudiamos o arbitrário, não queremos que nossos modelos sejam copiados sem um entendimento morfo e fisiológico, não ditamos regras e buscamos antes de tudo a satisfação pessoal de fazer aquilo que amamos, nós exploramos.


Marcelo "Moorea" Polato

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