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PROCURANDO NAUFRÁGIOS

Embora muitos acreditem que a busca e localização de naufrágios seja uma operação Hollywodiana, envolvendo grandes embarcações e um número sem fim de mergulhadores, na realidade ela pode ser bem mais simples.
Como dizia meu saudoso amigo Martins, encontrar um navio é 44% transpiração, 44 % determinação e 2% Iluminação.
O ponto inicial, na maioria das vezes é a pesquisa histórica ou documental, é quase sempre o ponto de partida para as buscas, existem vários navios perdidos, mas a grande maioria dos wreck divers acaba optando, em função de comodidade, possibilidades financeiras e outras mais, por mergulhar naqueles já conhecidos, para se ter idéia, só na Ilhabela existe mais de uma dezena de navios "perdidos", pode-se citar como exemplos, o Tritão, o France (que pode nem Ter afundado), submarinos alemães rondaram por lá, um deles estaria entre a ponta da Sela e Alcatrazes, o Attilio, o Cacique, o Guarani, embora muitos citem coordenadas do ponto de naufrágios (inclusive eu mesmo), muitas vezes se formos plotar essas coordenadas na carta, encontraremos navios no alto de morros !!!.
Um segundo passo é a pesquisa "de campo", pescadores, principalmente aqueles que arrastam redes de camarão, normalmente conhecem pontos de "enrosco", onde evitam passar com suas redes, em fundo arenoso, não é muito comum a presença de pedras e muitas vezes esses pontos podem ser naufrágios, antigos moradores, muitas vezes presenciaram naufrágios e podem ser uma fonte de referência muito preciosa.

Sabendo que há um naufrágio, o primeiro passo é delimitar uma área de busca, para que você não fique em círculos sobre um mesmo local, passando ao lado do seu navio sem nunca localiza-lo, a utilização de cartas náuticas bem detalhadas ou mesmo croquis feitos a mão é sempre de grande utilidade e a melhor maneira de determinar pontos em um mapa ou carta, é utilizando objetos ou acidentes geográficos em terra como referência, divida a área da carta que interessa em pequenos quadrados, crie uma legenda tipo batalha naval e inicie a sua busca por setores.
Pode-se usar um sonar, para procurar relevos incomuns no fundo, recentemente, enquanto procurávamos um navio perdido em certo ponto da Ilha, eu e um amigo, nos deparamos com uma imagem na sonda que surgia nos 25/28 metros, subia até uns 12, permanecia nessa profundidade e voltava aos 25 depois de uns 8 metros, fizemos umas 4 ou 5 passagens sobre nosso alvo, até termos a certeza que se tratava de um navio, pois as duas bordas apresentavam cantos vivos, a única pergunta que ficava era o comprimento, um barco com 8 metros de boca não podia ter só 25/30 de comprimento, talvez estivesse quebrado...
Equipados, caímos na água para confirmar nosso achado, a visibilidade era de 1,5 a 2 metros e após chegarmos ao local, qual não foi nossa surpresa ao encontrar uma lage, quase em forma de bloco, que não consta em nenhuma carta náutica da região ao invés do navio que acreditávamos ter descoberto, o navio não achamos, mas sem dúvida o pesqueiro é de primeira qualidade, grandes "quadrados" e garoupas habitam o local, muitas risadas e voltamos para a lancha.
Outro método bastante usado é o de garatear o fundo, a garatéia é aquela âncora, que ao invés de pás tem 4 ou 5 pernas, mais estreitas, normalmente de ferro de construção mesmo e que não enterra na areia, você larga bastante cabo pela popa e vai arrastando a garateia no fundo, quando enroscar em algo, principalmente onde era para existir apenas areia, você para o barco e vai dar uma olhada.
Outro equipamento, é o que chamamos de trawl-door, não sei se tem tradução, mas são sua pequenas "portas", que são rebocadas e tendem a ir para o fundo e afastar-se uma da outra (como portas de rede de camarão), entre as duas há um cabo ou uma corrente, normalmente de 20 a 25 metros e funciona como a garatéia, enroscou, para e vai olhar.
Em áreas de pedra e mais rasas, pode-se usar o "sled", que é uma pá de madeira de mais ou menos 60 X 40 cm, presa a um cabo, o mergulhador segura o sled e com o barco em baixa velocidade (2 a 3 nós) usa-o como asa para subir e descer, não tendo necessidade de ficar batendo perna e com uma velocidade muito maior pode-se cobrir uma área bem grande em dias de visibilidade boa, o sled deve ser confeccionado de modo que o mergulhador possa opera-lo com as duas ou só com uma mão, para que possa pinçar o nariz, olhar relógios, etc, ao término do mergulho a subida deve ser feita após abandonar o equipamento para não haver violação de velocidade.
Os demais padrões de busca usando dois ou mais mergulhadores também funcionam bem, se você tiver uma área menor e bem sinalizada, eu pessoalmente acho o sled uma boa, principalmente porque pode ser rebocado de bote, sem necessidade de mover o barco maior, que pode ficar fundeado por perto prestando suporte.
Após a localização do seu navio, deve ser solta uma bóia ou qualquer marca flutuante na parte mais central dele, da superficie você pode fazer marcas visuais, com ajuda de uma bússola ou sextante, faça várias marcas, pois cada uma delas aumentará a precisão da próxima vez que você vier até lá, marcas com angulos próximos a 90 graus são bem precisas e objetos grandes e distantes costumam dar boa precisão, você pode por exemplo marcar que enxerga a Ponta do Nheco Nheco a 210 graus, a ponta do Lero Lero a 110, o rio da água gelada a 185, e o Pico do Urubu a 80, sua marca está garantida.
Equipamentos de posicionamento por satélite (GPS) também são muito bons, você precisa apenas prestar atenção ao DATUM que está utilizando, pois na hora de passar as suas coordenadas para a carta podem ocorrer erros, usando o DATUM WGS84 em Ilhabela é necessário fazer uma correção de 0,02 minuto para sul e 0,02 para leste, antes de plotar na carta, dê preferência a equipamentos de 12 canais para os portáteis e, se for instalar um fixo, os módulos de diferencial DGPS, hoje custam cerca de 1.000 pratas e reduzem sua margem de erro a quase nada.
Equipamentos mais sofisticados incluem os Side-Scan-Sonars, que são sonares de varredura lateral que fazem um perfil do fundo em três dimensões, alguns deles tem magnetômetros acoplados, parecem um torpedo que é chamado "fish", você o leva rebocado atrás do barco, e uma impressora vai mostrando e passando para o papel como é o fundo, custam alguns milhares de dólares, mas são o que há de mais moderno para buscas e mapeamento de fundo.
Outra tralha bem interessante é um equipamento chamado "bottom profiler", que te dá um perfil de fundo, muitas vezes até abaixo da areia ou do lodo, muito usado para achar metal enterrado, novamente custa vários milhares de verdinhas e para nós simples mortais ainda é apenas sonho.
Pode-se ter certeza que a alegria do achado é insuperável, mas é prêmio dos muito persistentes, pois ficar de sonda ligada, andando a 4 nós, em círculos expandidos, por um dia inteiro, não é o ideal de diversão da maioria dos mergulhadores, ficar sentado na popa do barco prestando atenção a um cabo e terminar o dia com um baita torcicolo, enquanto todos estão mergulhando ou se divertindo na praia, tampouco faz parte da programação da maioria, mas posso dizer que no ferro velho no fundo deve haver alguma espécie de vírus, e que depois que ataca seu organismo não há cura.
Pode-se começar até com um bote, uns metros de cabo e uma garatéia, existem navios relativamente "fáceis", principalmente os que não tiveram grande história, pois nunca despertaram muita curiosidade, na maior parte do tempo você vai pensar em desistir, mas como diz um amigo meu, o peixe grande ia morder dez minutos após você ter desistido, se você não for persistente o suficiente, fique apenas lendo nas revistas sobe aqueles caras que acharam isso e aquilo no fundo e que por alguns momentos sentem o sangue de "explorador" mais quente na veia, você só não imagina quanto tempo ele levou até chegar lá, o Mel Fisher perdeu até o filho na busca do Atocha e se você acha que aquele é um fato único e isolado, (me refiro ao Atocha) é só lembrar da nossa colonização e de quantas e quantas naus e caravelas daqueles tempos estão perdidas por aqui, Castelhanos sem duvida era um porto pirata e dos mais movimentados, o Saco do Sombrio idem, quem sabe um dia desses, em meio a nossas inúmeras buscas, não damos de cara com canhões de bronze ouro no fundo, e acabamos virando capa de revista ???!?!?.

Existem várias outras opções e tipos de equipamentos, se um dia você achar que é hora de sair ao mar, nem que seja para encontrar aquela escuna que esta perdida na Ilha da Serraria e quiser alguma dica, informação, ou simplesmente discutir idéias, fique a vontade para entrar em contato conosco, de repente nós até te acompanhamos....

Marcelo "Moorea" Polato

02/2004

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